Caros amigos, durante o ano de 2005, eu e alguns amigos planejamos ir ao Chile, descendo até Puerto Montt, estremidade do Chile continente, já que dali em diante, só ilhas e por navegação marítima.
Passando o Ano Novo em Rio das Ostras-RJ com a família, perdi o dia de saída 03/01/2006 e os meus amigos seguiram destino.
Klein com sua inseparável esposa Beth e o Giggio solo saíram de Sampa, encontrando o garotinho Mazzorana em Curitiba. Seguiram a Porto Alegre onde os esperavam o Diabolin, o Avelino Cassol e o Adv. Depois da festa do reencontro em POA, seguiram rumo a Santiago e a Puerto Montt.
Passados vários dias, acompanhando-os pela Internet, decidi encontrá-los em POA, no retorno. Em 18/01/2006, segui para Curitiba, encontrando o Zé do Laço, com quem almocei. Papo vai e papo vem, chegamos à conclusão de quem vai a POA vai a BAires. Ele me ajudou com a Carta Verde no HSBC de Curitiba e foi comigo até União da Vitória - PR. Conheci sua família daquela cidade e dormimos no Hotel Luz, muito aconchegante com seu banheiro único para todos os hóspedes.
Chovia muito quando nos despedimos na ponte que liga União da Vitória a Porto União. Ele voltou a Curitiba e eu segui rumo à fronteira, com saída por Barracão e entrada na Argentina via Bernardo Yrigoyen, pouco abaixo de Foz do Iguaçú.
Entrei na Argentina, enchi o tanque com a gasolina 95% e fui "descendo" sentido sul. Pernoitei em Posadas, cidadezinha pequena e agradável. Na manhã seguinte, dei um giro pela cidade e peguei a estrada. Estava muito longe de BAires ainda. Motoquei o dia todo, chegando à noite em Concórdia. Cheguei na praça principal para buscar informações quando fui convidado por 2 boas praças que estavam sentados bebendo cerveja. Sentei-me com eles e passei umas 2 horas bebericando Schneider, boa cerveja argentina. Quando o cansaço chegou e o menos velho percebeu, gentilmente guiou-me até o hotel de um amigo dele, onde passei a noite. Após o café da manhã, peguei estrada de novo.
A chuva havia passado, mas o céu, de vez em quando, mostrava-se ameaçador. Lembro-me que, após passar por Passos de los Libres, fronteira com Uruguaiana, precisei parar num posto para me equipar. O céu ficara feio e nervoso. Os caminhoneiros que lá estavam, sugeriram que esperasse um pouco, mas queria chegar em BAires. Peguei um dos maiores torós da minha vida. Com sua mão divina, o Senhor dos Mundos segurou minha brava LC1500 em 2 aquaplanagens terríveis, a uns 110 km/h. A moto sambou doida e com muito custo conseguir equilibrar-me e segurá-la. O velho coração bateu muito forte naqueles momentos. Decidi reduzir a velocidade e assim o fiz, seguindo maneiro e molhado. Poucos conseguirão imaginar um toró danado, baixa visibilidade e caminhões contrários jogando verdadeira onda d'água sobre mim ao cruzarem, somando-se ao vento fortíssimo daquelas planícies sem fim. Afinal, um acidente àquelas alturas seria uma lástima!
Chegando a BAires, ainda de dia, precisava encontrar um hotel para ficar. Como sabem, sou motociclista à moda antiga, não planejo, nem reservo nadinha. Meus amigos é que se viram em detalhar suas viagens, listando postos de combustíveis, hoteis, restaurantes, levando consigo GPS além de alguns mapas. Cabeça dura e fria, vou é no papo mesmo, conversando com todos que encontro, pedindo dicas, trocando idéias enquanto descanso e assim vai. O mapa acima traçado foi feito depois da viagem, claro, já que iria somente a Porto Alegre!
Havia um congresso naquela cidade e foi muito difícil encontrar hotel na chegada. Percebi um certo preconceito com motociclistas, pois nem conseguia entrar no hotel, já que os porteiros diziam que não havia vaga! Até um padre, brasileiro, que identificando minhas bandeiras (Brasil e São Paulo) veio até mim, conversou e orientou-me a ir até um hotel de amigo dele. Nem com a reza do padre eu consegui vaga.
Bem, o santo é forte e, motocando pelo centro da cidade, encontrei um hotelzinho pequeno, de nome Piriápolis, que me abrigou. A única restrição que faço é o banheiro, onde o chuveiro é ao lado da bacia e molha tudo quando se toma uma ducha. O resto é 10! O dono, o pessoal de recepção e a localização.
Estava há 3 dias em BAires quando as primeiras 3 motos chegaram. As outras 3 se separaram em Santiago devido divergências de roteiro e comportamento entre 2 membros.
Na noite em que chegaram, decidimos pegar táxi (muito barato) e ir até Puerto Madero, velho porto do Rio da Prata, que passou décadas semi abandonado. Reestruturado para lazer e turismo, ficou lindíssimo, com marina, restaurantes, calçadões, jardins. Entramos numa baita churrascaria (parrillaria), elegante e com fila para ingresso. A carne, saladas, vinhos tudo de primeira! Pouco antes de sairmos, descobrimos que era uma filial do Rubayat, inaugurada logo após a reconstrução de Puerto Madero.
No dia seguinte, saímos de metrô, bem próximo do Piriápolis e depois pegamos um trem turístico que nos levou até o porto de onde saem catamarans para o Rio da Prata. Só os visitamos e retornamos à cidade. Eles queriam fazer compras na Calle Florida e arredores, além de visitarem o Caminito.
Não deu tempo para conhecerem o bairro de San Palermo, onde por quarteirões, há uma feira de antiguidade. Eu a visitei sozinho, num domingo após minha chegada. Itens do arco da velha podem ser comprados por preços baixos (padrão do Real), mas não por motociclistas, cujo espaço é tão valioso quanto de uma Enterprise.
Após a 2 noite em BAires, o pessoal do Chile quis pegar estrada. Esse era o bonde dos rapidinhos, aqueles que não queriam parar, fotografar e descansar. Tinha objetivo de retornar rápido. São caras legais, mas eu deveria ter pegado o bonde dos fotógrafos e dos admiradores de paisagens, certo? Esse foi o 2 bonde e chegou 1 ou 2 dias depois em POA. Ainda assim, foi muito gostoso e agradável motocar com aquele pessoal.
Atravessamos o Rio da Prata e chegamos ao Uruguai, via Colonia del Sacramento. Há uma travessia mais demorada e que deixa os passageiros já em Montevidéu. Não nos parecia legal, ainda que houvesse pressa naquela turminha.
Sacramento é uma velha cidade histórica, fundada por portugueses e que passou ao domínio espanhol tempos depois. Tem muralhas, velhos canhões, praças e a ótima cerveja uruguaia Patrícia, para mim a melhor que já bebi em tantas paragens. Depois de algumas horas, seguimos viagem.
Pernoitamos em Montevidéu, em hotel aconchegante e barato! No dia seguinte, saímos para um tour na cidade. Seus prédios antigos muito bem conservados e sem grandes arranha céus, Montevidéu pareceu-me parada no tempo, linda e tranquila. Lamentavelmente, não ficamos mais em Montevidéu.
Nossa bússola apontava para o norte e seguimos para Porto Alegre, passando por Punta Balena, Punta del Leste, onde paramos somente para o almoço e cervejas Patrícia. Não tivemos tempo para esmiuçar aquela linda cidade, de grandes casarões, avenidas, restaurantes, cassinos e gente bonita. Pena o que a pressa faz!
Após poucas centenas de quilometros, chegamos ao Chuy uruguaio e ao Chuí brasileiro, onde fizemos algumas fotos, daquele estremo brasileiro.
A passagem pela reserva de Tuim, a baixa velocidade (radares), com paisagem homogênea de banhados, nos permitiu ver centenas de famílias de capivaras, jacarés do papo amarelo ao sol e uma pluralidade de aves inimaginável. lindo aquele lugar e eficiente sua conservação. Mesmo com todo o cuidado, encontrámos muitas carcaças de capivaras que, buscando atravessar a estreita pista, são atropeladas e mortas. Pena!
Pernoitamos em Santa Vitória do Palmar-RS, depois em POA. Na chegada, defronte a concessionária Suzuki da Av. Farrapos, tem uma pequena oficina e um botéco. Lá nos esperavam um grupo de amigos(as), com os quais derramamos umas merecidas POLARES.
Cansados, seguimos para o Hotel Porto Alegre, simples e muito legal. No dia seguinte, o pessoal de Sampa já estava na estrada e, tendo me despedido deles, permaneci mais uns 3 dias em POA, onde vivera 11 anos, de 1967 a 1978. Revi amigos e visitei lugares de belas lembranças, inclusive minha Escola de Engenharia da UFRGS, onde me formei em 1977, quase 30 anos antes e a Vila militar da FAB, em Canoas, onde morei nos tempos de caserna.
Retornei a Sampa via BR-116, para mim maravilhosa com suas curvas, seus sobes e desces, sua paisagem inigualável e seus povoados alemães e italianos.
Cheguei em Sampa debaixo de chuva torrencial, 14 dias depois da minha saída. Encontrei minha esposa carrancuda, pois sentia-se enganada por mim, já que ia somente até o RS e não à Argentina. Alguns dias depois, tudo estava numa boa, claro!
Acredito que poucos são os motociclistas que gostam de viajar solo, sem parceiro e sem garupa. Particularmente, eu gosto muito! Não tenho hora para sair, nem para chegar. Paro onde quero e demoro o tempo que desejar ou motoco o tempo que preferir, 200 ou 1.200km/dia. Fico no hotel que decidir e assim por diante. Desta forma, não há discussão sobre o que fazer ou deixar de fazer.
Viagens posteriores - Puerto Montt e Machu Picchu tive a companhia de 1 parceiro, até porque há sempre aquele furacão no planejamento e aquele esvaziamento quando se aproxima a data da viagem.
Não consegui postar um semi-vídeo desta viagem.
Minha próxima postagem, será a viagem que fiz para o Chile, até Puerto Montt, em dezembro/2007. Fui com o Will Bill, do MC Bodes do Asfalto, um tremendo camarada, excelente parceiro e um topa tudo muito legal! Até lá.
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