domingo, 24 de fevereiro de 2013

RUMO A USHUAIA 2013 - 13º DIA - USHUAIA

RUMO A USHUAIA - 2013 – 13º DIA – 22-02-2013 - USHUAIA

Chegada a Ushuaia!!!

Novamente, devido problemas de logística, saímos  tarde de Rio Gallegos. Meus pesos argentinos haviam acabado e precisava trocar US$ para continuar a viagem na Argentina e garantir uns P$ Chilenos para a travessia chilena adiante, com 1 único posto de combustível naquela região.  Por outro lado, o Marcos precisava encontrar um banco que lhe fornecesse moeda local via cartão internacional Itaú.  Encontrou um Banco Galícia e o fez, depois fomos à casa de câmbio.

Eu pensei ter feito bom negócio trocando em BAires 1US$ por P$ 6,00, porém a casa de câmbio de Rio Gallegos o fez por P$ 6,80.  Assim, antes não foi um bom negócio e, se procurar, pelo câmbio paralelo, conseguirei melhor troca. Claro, não gastarei meu tempo para isto.

A saída de Rio Gallegos foi após as 13h00, com quase 600km a rodar, segundo o GPS. Sentamos a púa!  Ao completarmos os tanques no último posto, encontramos 2 motociclistas (Bodes do Asfalto - RS) e suas esposas que retornavam de Ushuaia e parte do Chile (Punta Arenas, Puerto Natales, Torres del Paine e Glaciar Perito Moreno).  Disseram-nos que a travessia era rápida, sem problemas com as fronteiras, a não ser o tempo para carimbos de passaportes e preenchimento de papéis. Atentaram para o rípio ( 130km), com muitos caminhões, carros, poeira e piso ruim. 

Varamos o trecho asfáltico até o Paso de Integração entre Argentina e Chile, com polícia, aduana e sanitária juntos num mesmo local, tanto na ida quanto na volta. Levamos cerca de 45 minutos nisso e seguimos adiante.  Alguns kms à frente, encontramos o Canal de Beagle, uma fila enorme de caminhões e carros. Cerca de 40 minutos após, estávamos entrando na enorme balsa, pertinho de carros e ladeados por caminhões.  A travessia demorou uns 45 minutos e foi o tempo de conhecermos um argentino super gente fina. Seu nome: Ignácio Denis, de Rio Grande – RA.

Conversamos durante toda a travessia, tirou foto com minha moto dizendo ser seu sonho pilotar uma daquelas, mas que só andava em motos chicas e outros papos da moda de moto. Disse-nos que o seguíssemos depois da travessia pois nos mostraria um caminho que cortaria 30km entre a saída da balsa e o início do  rípio. 

Bem, nós o seguimos e, logo adiante, uma pista de rípio por onde ele entrou. Nós o seguimos e saímos lá adiante. Foi o primeiro teste neste piso desta viagem. Foi a primeira experiência do Marcos e ele poderá contar aos netos como foi.

Eu seguia à frente do carro do Ignácio e o Marcos ficou um pouco para trás.  Eu não o via, mas acreditava que estivesse logo atrás do carro. Quando chegamos ao cabo dos cerca de 10km de desvio, esperamos o Marcos que demorou para chegar. 

Estava para retornar, quando ele chegou, nos dizendo que entrara no rípio sem baixar a calibragem dos pneus e sem desativar seu ABS.  Sambou logo em seguida, descendo com a moto na valeta lateral da pista e não conseguia sair de lá.  Continuou andando com a moto na valeta até que encontrou um ponto para sair dela. 

Depois da saída, parou a moto, desativou o ABS e murchou um pouco os pneus.  Quando ele me falou isto é que me lembrei que não havia feito também, daí minha moto sambar muito e bater seco no rípio. Não consegui desativar meu ABS de prima e não murchei os pneus. Segui assim mesmo. 

Dali em diante, seguimos o Ignácio até o rípio principal, quando ele nos deixou passar e nos seguiu para qualquer eventualidade. Até chegarmos à 2ª aduana chilena-argentina estávamos bem, ainda que empoeirados até nas orelhas, com os pulsos doendo pela pressão nas manoplas e tensão para seguir nas trilhas de caminhões, evitando o rípio solto.  Faltavam uns 10 kms para chegarmos ao fim do rípio.

Alguns kms antes do posto aduaneiro, o rípio ficou fofo e a moto sambou mais que o esperado, sendo que numa delas, quase caí. Com a mão do Criador dos Mundos e o conselho do El Cura (se vai frear, acelere!), minha moto conseguiu entrar em prumo e saí dessa quase queda.

O rípio fica acumulado entre as trilhas de rodas de carros e caminhões, bem como nas laterais das curvas, tornando-se muito perigoso. A saída de uma trilha nesses pontos é muito difícil pelo desequilíbrio e, caso haja algum veículo vindo em sentido contrário, a coisa complica! 

Qualquer curva deve ser vista como perigo potencial, logo entrar nela em sua mão, com cautela e menor velocidade. Lembrem-se que os motoristas de caminhões e automóveis, principalmente de peruas, são pouco complacentes com aquele ser desequilibrado que vem titubeando em sua moto pelas trilhas de outras rodas.  Cruzam com vc na maior velocidade, sem se preocuparem com a poeira que lhe tirará totalmente a visão e acumulará areia em suas roupas e capacete.  Chegam a ser insensíveis mesmo!

Confesso que cheguei cansado, com dores nos pulsos e nas mãos e faltavam ainda 10 kms para a chegada a San Sebastian. 

As agruras não terminaram com as sambadas no rípio nem com a poeira que nos deixou imundos! 

Estávamos longe de Ushuaia, devíamos chegar lá em 22/02/2013 e até reserva tínhamos no Ushuaia Green House, para nós um 5 estrelas, considerando a qualidade de alguns pernoites anteriores.

Abastecemos na ruta em San Sebastian, com 60.244km, 16,15 litros. Todo o próximo trajeto foi feito normalmente, porém precisei parar para me agasalhar melhor, pois estava congelando no peito. Já estava com 2ª pele inverno,  uma camiseta, a jaqueta com seus forros de inverno e chuva, com frio! 

Coloquei a jaqueta da capa de chuva dentro da jaqueta, cobrindo meu peito e me mandei.  A noite já havia caído e, contrariando tudo que oriento e sigo em motociclismo estradeiro, continuei pilotando a moto para chegar a Ushuaia.

Por dica do amigo Ignácio, chegando a Rio Grande, seguimos a rota de carga pesada, desviando da cidade e economizamos cerca de meia hora.

Em Toluin, abasteci aos 60.435km, com 11,76 litros. Conversando em português com o frentista, nascido na fronteira com o Brasil e dominando a língua portuguesa, ele nos orientou a cuidar no topo da serra, onde chovia sempre à noite e poderia nevar, como havia ocorrido na semana anterior.  A formação de gelo também não poderia ser descartada, disse.

Saímos dali com mais uma preocupação além da escuridão, do frio e do cansaço. Risco de chuva, neve e formação de gelo!  Putz, nada que nos entusiasmasse!

Realmente, depois de alguns kms, a garoa chegou forte, dificultando a visibilidade pelos capacetes e a velocidade diminuiu.  O frio era intenso, a chuva molhava mesmo e a visibilidade estava muito ruim. 

De repente, o Marcos parou sua moto frente a uma casa muito isolada, com iluminação externa.  Parei ao seu lado e ele me disse que sua moto estava com problema de superaquecimento. O escape estava ficando muito vermelho e ele se preocupou com o motor.

De dentro daquela casa, logo saíram 2 homens e vimos que eram policiais, sendo aquela uma unidade estradeira (policia caminera) Unidade Lago Escondido.  Tentaram ajudar a encontrar uma solução e como não havia, a não ser esperar o resfriamento da moto, convidaram-nos a entrar onde havia aquecimento.  Foi um achado!  Além do bom papo, pudemos secar um pouco nossas roupas e principalmente solucionar a visibilidade pelas viseiras dos capacetes.

Cerca de 1 hora depois, saímos em direção a Ushuaia.  Faltavam 58km, segundo os policiais, aos quais informamos e-mails e facebook para nos enviarem as fotos que nos mostraram no computador, onde aquela região fica totalmente tomada pela neve de meio de ano.

Sei que passamos por muitas curvas subindo e outras tantas descendo porém não conseguia distinguir nenhuma paisagem devido a concentração na estrada. Sei que havia muitas árvores, mas sem poder descrevê-las.

Repentinamente, ao fim de uma curva, nos deparamos com a entrada oficial de Ushuaia nos dando boas vindas! 

O Marcos parou sua moto e desabou, gritando muito, chorando de alegria, fazendo vídeo agradecendo a todos que o ajudaram na empreitada. 

Enfim, ficamos ali, naquela escuridão, curtindo a chegada mais estranha de um motociclista a Ushuaia, passada a meia noite!  Até o guarda, que nos parou em seguida para verificação de documentos, comentou sobre o horário de chegada, da temperatura àquela hora e os riscos que apresentavam a chuva e o frio.

Liberados, seguimos para o hotel já configurado no GPS.

Fomos recebidos pela Sra. Milta, muito gentil, que logo nos encaminhou ao nosso apto, digno de 2 malucos que se aventuraram a chegar àquela hora! Eram, exatamente, 02h00 da manhã de 23/02/2013 - sábado!

Um banho bem quente foi o suficiente para nos jogar na cama e nos apagar, literalmente. 

Uma etapa importante havia sido concluída e merecíamos o descanso dos titans!

Por hoje é só.  Fiquem com Deus!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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