quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Meccão em Calama - Chile



Pessoal, depois de dormirmos num acampamento, em bangalôs, onde foi preciso usar o spray anti mau cheiro (já falei sobre ele), decidimos subir a serra em direção ao Paso de Jama. A parte incial da estrada é legal, com muitas curvas, várias inclinadas e curtas. Consegui fazer boas fotos e as colocarei tao logo tenhamos mais tempo para a Internet. Durante muito tempo, somente ouvi o ronco da moto e o vento pelas frestas do capacete. A estrada ficava literalmente vazia, destinada quase exclusivamente a mim.

Havíamos enchido o tanque em Volcan, cerca de 70 km depois de Jujuy e deveríamos completar o tanque em Susques e no próximo, em Jama, já que o GPS do Atie diz que há um posto lá. Por via das dúvidas, enchi um galão de 4 litros em Volcan e saímos.

A moto do Atie não podia parar ou baixar a rotação, caso contrario apagava. Foi um sufoco essa insegurança: Chegaremos ou nao? Foi assim o tempo todo, em curvas de baixa, lá estava o Atie paradão. A moto pegava, mas em baixa rotação, insuficiente para arrancar. Depois de alguns minutos e muita paciencia, ele conseguia que ela arrancasse.

O Atie, para não parar a moto, quando ela ficava boa para partir, ele desaparecia, conforme nosso acordo, e nos encontrávamos no próximo reabastecimento.

Em Susques, depois de rodarmos 157km, completamos os tanques das motos e fomos almoçar. Ao encostarmos as motos, percebi que o Atie nao estava bem e ele confirmou que estava muito cansado e com falta de ar. Entramos no restaurante Kiwicha e a dona, Paula, muito simpática conosco, pediu que sua garçonete acompanhasse o Atie ao posto de saúde, onde ele ficou inalando oxigenio puro por uns minutos, até se recobrar. Voltando ao restaurante, o Atie nao quis almoçar pois estava sem fome, acreditam? Continuava sentindo os efeitos do ar rarefeito.

Cabe uma pequena explanação: Eu não senti os efeitos da mesma forma que o Atie, embora me sentisse meio estranho, com pequena sonolencia. No restaurante do El Refúgio, eu havia jantado carne de gado e o Atie também, só que ele estava muito contente pelo papo todo que ele havia tido com a Pathy, durante o qual ele bebeu mais vinho do que devia. Isto afetou sua resistencia física. Então, comer pouco, beber somente liquido sem gás e nada de álcool é fator fundamental para uma subida sem maiores problemas. Caso contrário, os sintomas mais conhecidos são a sensação de sonolencia, cansaço, corpo pesado, náuseas e dor de cabeca frontal ou lateral intensas, além da possibilidade de embolias fatais. Segundo indicações médicas, constantes no blog do Miguel Ángel - Jujuy, deve-se dormir bem na noite anterior e beber muita água, além de comer caramelos durante a viagem. Há quem recomende mascar folha de coca, mas...

No Kiwicha, a Paula sugeriu e deu uma cebola cortada para colocar no local do filtro de ar. Eu já havia sido orientado sobre isso no passado, mas não me lembrava mais. Parece brincadeira, mas a moto ficou muito mais esperta, arrancando com menos dificuldade. Soubemos que o próximo posto seria em San Pedro de Atacama e não no Passo de Jama, como previsto no GPS do Atie. Enchi mais um galão de 4 litros (total 7 litros reserva) e o Atie um galão com 3 litros. Foi o que nos salvou, pois deu na conta. Eu cheguei na reserva e o Atie apagou a moto no posto de San Pedro de Atacama!!!

Bem, tirando os sustos, dificuldades mecanicas e de saúde, essa ida ao Chile pelo Passo de Jama é para motociclistas experientes, determinados e preparados para sofrer reveses de toda sorte. Sem sombra de dúvida tem foi e, creio será, a travessia mais difícil feita por mim. Em dado momento, veio à minha mente: Putz, o que eu estou fazendo aqui? Sério!

Claro que se o camarada for com uma motona injetada, tanque super, calefação nas manoplas, ar quente injetando etc e tal, essa travessia poderá ser sopa, pois as pistas são muito boas e bem sinalizadas. Qualquer moto carburada precisará estar preparada com giclê menor e carburação perfeita para ar rarefeito, caso contrário a mistura ficará muito rica, perderá potencia e passará sufoco. Minha LC1500 está um desastre no nivel do mar, com sua rotação endiabrada, explodindo, subindo rotação nas paradas etc, mas nas alturas é um bólido, com seu motor girando redondinho e com marcha lenta legal.

Gente, nos altiplanos argentino e chileno, passei o maior frio da minha vida. Estava agasalhado, luva de couro, lenco no pescoco, ceroula sob a calca, mas as maos ficaram congeladas e doíam ao apertar o acelerador ou embreagem. O braco ficou uma lástima de tanto esforco. Lá em cima, por volta dos 4.000m o vento lateral, além de muito frio, é fortíssimo e tive que andar com a moto inclinada, literalmente, o tempo todo.

Chegamos na aduana argentina, no Passo de Jama, nao tivemos qualquer dificuldade com o pessoal e documentacao. A utilizacao de passaporte, ao invés do RG e a papelada adicional, é muito interessante. A moto do Atie chegou sendo empurrada por ele, pois apagara a uns 100m. Assim, foi visível que aquele esforco fora demasiado para ele. Sua expressao era de muito cansaco. Confesso que fiquei ainda mais preocupado com ele, pois estávamos a 160km de San Pedro de Atacama, subiríamos dos 4.200m daquele posto de aduana até 5.000m no lado chileno.

Esvaziamos os galoes de gasolina (gracas a Deus os tínhamos, pois nós nao havíamos lido no blog do Mazzo que nao haveria gasolina naquele local, embora exista um posto YPF todinho montado, ainda sem homologacao). Meu tanque ficou cheínho com os 7 litros e o do Atie quase completou os 20 l do seu tanque. Nao havia outra solucao a nao ser arriscar e seguir em frente, pois eram quase 17h00, nao havia nenhuma caminhonete que levasse a moto do Atie e ele até SJ do Atacama. Com fé em Deus e na sorte dos aventureiros ou irresponsáveis, sei lá, fomos em frente. Eu só tornei a ver o Atie no posto da aduana chilena na entrada daquela cidadezinha.´

Estávamos exaustos! Precisávamos completar os tanques, encontrar uma posadinha e jantar alguma coisa. Conseguimos fazer tudo isso em cerca de 3 horas, quando retornamos para dormir. O hoteleiro teve a cara de pau de cobrar o dobro do preco pelo quarto duplo, sem TV, sem AC, enfim, um quartinho meia boca. Nao havia encontrado farmácia para comprar o tapa ouvidos e dormir com o Atie nao é para muitos... he he he.... Eu também ronco, mas o carinha trouxe o dele e quem se ferrou fui eu. Estou com sono até agora!

Estamos em Calama, cerca de 100km de SJ de Atacama. A moto do Atie deu o último suspiro nessa vinda e o deixou preocupado com a sequencia da viagem. Buscou e encontrou uma oficina mecanica de motos, cujo técnico desmontou a DR800, retirando o carburador e está dando uma geral. Está trocando os gicles para menores, trocando as velas e o filtro de combustível. Parece que o gajo entende, pois tem em sua pequena oficina de 4x4m até uma Ninja esperando reparo. Espero que isso seja a solucao final, pois o Atie tem passado sufoco e o prazer da viagem tem ficado para trás, uma vez que ele nem pode parar a moto para fazer fotos de locais interessantes. Acredito, também, que nao digitarei tanto o nome do Atie, já que ele e sua moto tem sido, até aqui, o mote mais importante dessa digitacao. Ele ficará mais contente, claro!

Vamos ver se o mecanico consegue dar uma regulada na injecao de ar da minha moto, de tal forma que ela consiga andar bem na cidade, da mesma forma como anda no morro. Fico até preocupado se devo mandar fazer isso ou nao, mas tenho pensado nisso enquanto digito para voces. Depois eu contarei o que decidi, ok?

Nao sabemos se sairemos hoje daqui, seguindo para Iquique, distante uns 350km ou se pernoitaremos aqui, seguindo direto a Arica amanha, rodando uns 700km pela Panamericana. Vamos ver como ficarao as motos. Eu prefiro passar por Iquique e trocar o pneu traseiro da minha moto que já está na hora. Lá é zona franca, como Ciudad del Leste no Paraguai e bem mais barato.

Por hoje é só. Estou retornando a oficina e decidir o que fazer hoje.

Importante, pessoal, é que a escolha do parceiro deve ser muito criteriosa, pois mesmo nao encontrando o parceiro ideal, há que ser o menos discordante com vc, que nao seja egoísta, impondo seus caminhos, hoteis, restaurantes e que haja compreensao mútua de que problemas inesperados ocorrerao. Sempre haverá uma ou outra discordancia, algumas respostas mais ríspidas e todos precisam saber que o ambiente de uma longa viagem, cheia de obstáculos, nao é o mesmo da festinha que ocorre quando os motociclistas se encontram. Uma viagem longa sempre mostra, realmente, quem sao seus parceiros.

A perseveranca no alcance do objetivo será fundamental para nao transformar uma viagem tao desejada em uma frustracao enorme. Só para confirmar, em nenhum momento falamos em desistir da viagem ou encurtá-la. Essa determinacao precisa ser comum aqueles que viajam juntos, certo?

Fiquem com Deus!

Mecca.

4 comentários:

Iracema disse...

Olá Mecca!!!

Olha a sua turma de trabalho dando o ar da graça no seu blog.
Estamos acompanhando seus relatos, suas histórias,e torcendo para que dê tudo certo.
Aproveite o máximo essa viagem, apesar de alguns percalços, porém sabemos que faz parte.
Por aqui segue tudo em ordem, muuuuitooo trabalho...hehehehe.
Por incrível que pareça sentimos sua falta!!! rsrsrsrs....

Um grande abraço

Iracema, Dyeferson e César.

Anônimo disse...

KKKKKKKKKKKK!!!Muito boa Iracema!!!
O Bolão diz o mesmo....hehe!!!
Bjs Daddy, cuide-se e continue postando!
Vanessinha.

Pilão disse...

Interessante como a mesma estrada, mesmo local, é percebida de maneiras diferentes por pessoas diferentes. Como disse Amyr Klink, não basta ler nos livros ou ver na TV como são os lugares. Temos que ir lá, com as próprias "pernas".

Boa Viagem, amiguinhos !

Pilão
SombreroS - SP

R. Mecca disse...

1. Turminha da Segbras: Fico feliz que estejam acompanhando o chefinho, embora confirmem que ele nao esta por perto, certo? Só posso fazer uma viagem destas por saber que a Segbras está em boas e competentes maos. Grande abraco a vcs!

2. Filhota Vanessa: Continue acompanhando o blog e, por favor, procure saber como poderei corrigir e acrescentar comentários futuros quando estiver de volta. Assim, poderei incluir fotos e com elas recordar alguma passagem que ficou para trás.

3. Grande Pilao: Fico honrado que vc esteja acompanhando esse blog despretencioso e, por isso, amador. Minhas consideracoes têm sido feitas ¨de prima¨, daí serem verdadeiras para aquele momento. Com o passar do tempo, visualizando as fotos e relembrando as passagens, esquecendo o que de difícil ou ruim aconteceu (aliás, como sempre ocorre), minhas impressoes mudarao, quase certamente. O que nao me preocupa é dizer o que penso naquele momento, muitas vezes, recém saído de situacoes complicadas e com o fígado aticado. Entendo que uma viagem destas, prevista como turismo para mim, embora tenha imagens fantásticas de picos e vales, com coloracoes diversas, nao necessariamente precisa ser feita de moto. Para ir a Machu Picchu é melhor contratar a CVC com tudo incluído e será uma viagem saborosa... he he he... Ela sempre será especial para aqueles que gostam de desafios, que provem a eles mesmos que sao phodoes, sacou? Em principio, nao é meu caso, embora saiba que sou phodao, já que nao fico com minha moto tinindo, indo ao bar do MC, aos encontros de motos, tomando café no serra azul e assim por diante. Minha moto é meu cavalo para fazer o que mais gosto quando disponho de tempo: viajar, conhecer lugares, pessoas e culturas diferentes. O que me tem tirado um pouco o sabor dessa viagem é a necessidade que causa a pressa do companheiro em retornar, querendo encurtar o caminho, reduzir visitas e o período para conhecimento e curticao devido compromissos profissionais. Nao o culpo e ele sabe disso, porém nao deveria ocorrer, caso houvesse melhor preparacao, certo?
Grande abraco, mano. Ainda faremos uma viagem juntos, eu, vc e o velho Mad. Quem sabe tenhamos a mesma visao, nao é mesmo?