segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Meccao em Jujuy - ainda

Ontem, 30/11, deveríamos subir o morro e cruzar os Andes pelo Paso de Jama, em direção ao deserto de Atacama. Chegando em Volcan, pequeno povoado, no único posto de lá, completamos os tanques. Buscando maior potência em sua moto, o Atiê indagou do frentista se tinha algum bom aditivo. O camarada trouxe 2 bisnagas que o Atiê despejou em seu tanque. Ao ler a embalagem, ví que era óleo 2T. Putz, que droga!

Iniciamos a subida quando o Atie sentiu que sua moto não estava bem, não atingindo a rotação necessária. Precisamos descer até um posto, a uns 20 km do cruzamento que nos levaria ao alto. Lá não há estrutura nenhuma e, depois de algumas tentativas de reparo pelo Atie e por alguns motociclistas solidários, acabamos colocando a moto dele sobre uma caminhonete, retornando a SS Jujuy.

O Atiê veio bem confortável naquele velho Ford diesel caindo aos cacos, cujo limpador de parabrisa era movido por um galho, que o boliviano empurrava com a mão esquerda enquanto dirigia com a direita. Imaginem um barbeiro com as duas mãos e o imaginem com uma mão só. Credo! Foi uma aventura para o Atiê.

Por outro lado, com minha moto na estrada, retornando a Jujuy, peguei uma chuva fina e muito fria que quase me congelou, pois não estava preparado para ela. Cheguei tremendo de frio, principalmente nas mãos.

Ficamos no mesmo hotel Las Brisas de baixa qualidade e dona carrancuda, pois ele fica perto de uma oficina de motos que o Atie havia levado antes. Como era domingo, nao havia ninguém lá.

À noite, saímos para jantar. Não tinhamos grana em pesos argentinos. Tínhamos US$ e R$, porém aqui ninguém os troca com facilidade. Como tínhamos, somados, 24 pesos, daria para irmos até o centro, buscar um restaurante que aceitasse cartão de crédito. O motorista nos levou a um ótimo, o Marazaga, cujo dono, Juan Uisgarra, aceitou cobrar em dolares. O Marazaga, além da ótima comida, tem ótimos vinhos, boa cerveja e uma decoração aconchegante.

Comi um dos pratos mais deliciosos da vida e o Atie uma truta, segundo ele, maravilhosa. Lá, conversando com o Juan, ele disse conhecer um engenheiro que conserta motos e o chamou pelo telefone. O Miguel Ángel, engenheiro, foi até lá com sua esposa e marcou para o dia seguinte às 09h30. Retornamos ao hotel (Miguel nos levou, pois como bom motociclista, é fraterno e companheiro).

Hoje, pelas 09h30, o Miguel trouxe uma caminhonete e colocamos sobre ela a DR800 do Atie.
A oficina do Miguel é muito bem equipada e ele desmontou a carenagem da moto. Ao soltar os cabos das velas, o Atie percebeu que um dos cabos estava solto, logo deveria ser a causa do problema. Todos pensaram o mesmo.

Foram limpas as velas (pretas e com carvão), calibradas, remontadas e regulada a carburação, externamente. O Atie levou sua moto ao Hotel, enquanto eu vinha com o Miguel em seu carro.

A chuva muito fria quase congelou o Atie, mas ele aguentou firme. Mesmo assim, disse algumas vezes, antes do hotel, que a moto nao estava bem, que rateava em baixa e demorava para acelerar. Poderia ser a regulagem para mistura pobre de combustível, todavia havia uma dúvida sobre o carburador, depois que se inseriu óleo 2 tempos no tanque, antes do grilo com a moto.

Segundo Miguel, deveria desmontar o carburador, limpar, inserir um outro giclê, com orificio menor, mas o Atie queria tentar subir assim mesmo. Como o Miguel tinha compromissos foi embora e nós retornamos ao hotel para acertar a conta e seguir viagem.

Tínhamos levado nossas roupas para lavar logo de manhã e deveríamos buscar até o meio dia. Chegamos atrasados e quando fomos buscar, estava tudo fechado. O povo daqui dorme umas 2 ou 3 horas depois do almoco (siesta). A lavanderia abriria somente às 16hoo ou 17h00. Enfim, ficamos por aqui em função de uns pares de meia...

Decidimos ficar aqui hoje. O Atie levará a moto a um outro mecânico ou ao mesmo Miguel para tentar resolver de vez. Temos a impressao que nao conseguiremos subir o morro com a moto como está, embora rateando como a minha, perde muita potencia. Depois de SS Jujuy, nao há mais nada até S. Pedro de Atacama. Melhor resolver por aqui mesmo.

Vamos conseguir, claro, mas perdemos estes 2 dias que faltarão no final para chegarmos a tempo do compromisso do Atiê. Isso já me aconteceu na ida ao Chile - Puerto Montt, em 12/2007. Tudo é contornável e nao será problema se isso ocorrer.

Ainda que tenhamos tido esse problema, a motivação continua elevada e não há duvida que chegaremos ao final da viagem com as motos nos levando.

Para todos os obstáculos que ocorrem nas viagens, sempre há as compensações, muito maiores que os problemas. Conhecemos o Miguel e o Juan, 2 camaradas 10! Acredito que nós dois também estamos aprendendo alguma coisa com isso, como a tolerância e a paciência para aceitar os imprevistos e perseverar nas soluções.

Abrindo um parêntesis, em 01/2007, o Miguel saiu de Jujuy e seguiu para Machu Picchu via Bolìvia e nos contou sobre as peripécias vivenciadas nos 4.000km rodados. Disse que será muito melhor se formos pelo Chile, como definido e retornarmos pela Bolívia, via rodovias asfaltadas e não como ele fez, rodando sobre o rípio centenas de km. Ele tem a história em seu site mas não o tenho agora. Já li seu relato e ri muito com as passagens pela Bolívia. Parece que quanto menos desenvolvimento tem, o povo se julga mais esperto. Isto me lembra um outro povo com quem convivo há décadas... he he he....

Caramba, hoje buscamos um lugar para almoçar aqui por perto da lavanderia. Acreditem, não havia opções. Como o Atie sente fome mais constante que eu, queria almoçar e eu o deixei encontrar um lugar. A dificuldade nos fez chegar num boteco boliviano que serviu frango, arroz e alface para o Atiê. Deve ter sido gostoso pois o carinha detonou aquele pratão. Para mim veio carne de vaca (ou boi) com molho sobre polenta mole. Nao tenho frescuras, mas não tinha a mesma fome dele, então comi um pouco só. Nao sinto saudade daquele boteco... he he he... Como chovia, entrou um baita vira-lata, todo molhado e se deitou. O garçom passava por ele, pulando-o e não o incomodava... Já vislumbraram o local, certo?

Bem, pessoal, a gente conta história e estória, mas no fundo o que queremos é que vocês entendam que uma viagem dessa não dá para oferecer conforto. Ela precisa ter tudo isso para que nos recordemos lá adiante. Dificuldades? Claro que sim, mas são os ingredientes para enfeitar nosso bolo, entendem?

O Atiê já pegou nossas roupas e agora vamos para um novo hotel aqui mesmo, mas mais próximo da ruta que nos levará ao Chile.

Até amanhã ou depois. Fiquem com Deus!

2 comentários:

Piréx disse...

Imprevistos fazem parte, Mecca... Boa sorte com a DR: espero que o próximo post seja para além de Jujuy. Abração!

R. Mecca disse...

Beleza, Piréx. É isso mesmo! Que chegaremos lá, isso é uma realidade!

abracao.