Segunda
feira, muitas nuvens e neblina forte prenunciavam um dia feio e frio.
Durante
o café, combinamos passar na oficina e pedir que o Jorge Duarte montasse a moto,
como estava, sem arrancar mesmo, pois o Marcos havia decidido tratar com a BMW
Service, com a qual tem a garantia da moto, para enviá-la a São Paulo e
conseguir sua passagem o mais rápido possível.
De
lá, iríamos fazer os passeios combinados, pelo menos: Parque Nacional da Terra
do Fogo e o Trem da Prisão (réplica de máquinas e com vagões). Estavam muito
recomendados, inclusive por aqueles que nunca os visitaram, mas os viram pelos
sites.
Passamos
na oficina por volta das 09h30 e a encontramos fechada, novamente. Diante
disso, seguimos para o Parque Nacional, levando o Marcos em minha garupa. A
partir de determinado ponto, termina o asfalto e começa o rípio muito bem
cuidado, com caminhões pipa regando sempre, evitando que as pedras se soltem,
tornando-o quase um asfalto meio barrento. Depois de uns 12 kms, vimos o portal
do Parque.
A
entrada do Parque é simples, com cancela e uma cabine onde pagamos P$ 60,00 por
pessoa, recebendo um comprovante e 2 folhetins sobre as atrações de lá. Rodamos
uns 5 ou 6 kms sem qualquer atração e já imaginávamos ter sido enganados! Mato,
floresta e nadinha de montanhas, lagos
ou qualquer outra beleza natural.
Ledo
engano! Aquele parque, de repente, tornou-se um manancial de paisagens
belíssimas, com vales, rios e lagos de degelo e montanhas com cume nevado,
lembrando, sem modéstia, as paisagens suíças que há em calendários daquele
país. Algumas são de tirar o fôlego e de
fazer qualquer ser humano sentir-se muito pequeno diante da grandiosa obra
natural que se avistava.
Cada
uma das 3 ou 4 estradinhas em rípio que pegávamos nos levava a lugares
fantásticos. As fotos feitas pelo Marcos, já que minha câmera havia falhado,
não desmentirão o que relato aqui. É um lugar que merece ser visitado e
qualquer propaganda não traduzirá totalmente as belezas que aguardam àqueles
que o visitarem.
Deve
ser esta a opinião das inúmeras excursões que chegam, uma atrás da outra, em
visitação ao Parque Nacional da Terra do Fogo.
Um
detalhe interessante e de extrema gentileza foi feita por uma senhora de Ushuaia,
que estava acompanhada por outra senhora e seu filho, ambos franceses. Ao
chegarmos a um dos lagos, os encontramos sentados em um banco de madeira e
faziam um pequeno lanche com cappuccino e torta de maçã, em quase um
piquenique.
Nós
os cumprimentamos e seguimos fazendo nossas fotos, quando a senhora argentina
nos perguntou de onde éramos e para onde iríamos. Iniciada a conversa, logo
veio ela trazendo um copo com cappuccino bem quente e a cesta com a torta de
maçã. Tudo bem, havíamos tomado nosso
desayuno muito bom no Ushuaia Green House, mas dispensar uma torta tão
apetitosa não foi nossa decisão.
Agradecemos e devoramos aquela delícia.
Depois vieram as fotos e a despedida.
Continuamos nosso passeio pelo Parque Nacional Tierra del Fuego, seguindo outras estradinhas em ripio que nos levaram a lugares muito especiais e dignos de fotos como as abaixo:
Estávamos saindo do Parque Nacional quando vimos uma placa informando: Ushuaia 12 km e Ensenada 2 km. Quase desisto de entrar naquela estradinha que descia em direção ao mar (Canal de Beagle). Depois de 1 km, descendo, abriu-se uma paisagem magnífica! O Canal de Beagle, a Ilha Redonda e, ao fundo, diversas montanhas com cumes nevados. Não havia infraestrutura, a não ser um pequeno trapiche com uma cabine ou lojinha, como queiram e uma fila de estrangeiros esperando para entrar.
Dezenas
de pessoas de várias excursões se espalhavam pela beira do Canal, algumas
deitadas sobre a grama, aproveitando o sol que abrira quando entramos no
Parque.
Algumas
fotos do Marcos, outras minhas e entramos na fila. Bem, era uma lojinha onde se vende cartões
postais alusivos à Terra do Fogo ou Fim do Mundo, sendo também uma agência
oficial dos correios argentinos.
Dentro dela, havia um senhor de cabelos brancos e cheios, com um bigode espesso que emendava com sua barba, tipo antigos nobres.
Dentro dela, havia um senhor de cabelos brancos e cheios, com um bigode espesso que emendava com sua barba, tipo antigos nobres.
Muito
simpático, colocava selos e carimbava passaportes dos turistas como o Primeiro
Ministro do País Ilha Redonda. Todos queriam fazer uma foto com ele, mulheres e
homens, inclusive eu e o Marcos! Cobrava
P$ 10,00 ou US$ 2,00 por isto. Coisa simples, bem bolada e que enchia suas
burras, fazendo a todos satisfeitos pela visita ao País da Ilha Redonda.....
Dalí,
saímos do Parque Nacional e, retornando à cidade, passamos pela Estação do Tren
Del Fin del Mundo. Ainda era cedo e
ficamos zanzando por ali, vendo trens, máquinas, lojinhas de regalos, fazendo fotos diversas, como as abaixo etc.
O ingresso para o trem foi P$ 175,00 + Ingresso ao Parque Nacional P$ 60,00. Como havíamos guardado os ingressos daquela visita, não precisamos pagar novamente.
O ingresso para o trem foi P$ 175,00 + Ingresso ao Parque Nacional P$ 60,00. Como havíamos guardado os ingressos daquela visita, não precisamos pagar novamente.
No
horário, ingressamos no trem, que comportava uns 8 vagões de turistas, primeira
classe e especial. Estas últimas custavam cerca de P$ 300,00 e P$ 400,00 com direito a algumas
guloseimas, pequena champanhe e um vagão melhorzinho. Pelo tempo e qualidade da “viagem” não
valeria a pena gastar um centavo a mais.
O
trem parece de brinquedo, circulando por trilhos com 50cm de espaçamento entre
eles, logo com baixa velocidade (~40 km-hora), vagões pequenos e locomotiva em
escala muito menor que as que costumamos ver nos filmes. A locomotiva queima
óleo diesel, aquece a água gerando vapor, que movimenta os pistões, girando as
rodas e puxando os vagõezinhos.
Durante
o trajeto, passamos por riachos de degelo, com águas cristalinas, por campos de
antiga floresta devastada pelo homem, restando somente os tocos com dezenas de
anos, apodrecendo ao tempo. Aquelas árvores foram cortadas por prisioneiros que
construíram a linha férrea original, tornando-as os dormentes e trilhos, que
também eram de madeira.
Enquanto
deslizava, vagarosamente pelos trilhos e pela paisagem, uma narrativa da
construção, seus motivos e suas dificuldades era enviada em 3 línguas para os turistas. Confesso que, em determinado momento, senti
muito sono, desejando que aquela viagem terminasse rapidamente.
Enfim,
chegamos ao final, pegamos minha moto e retornamos à cidade. Passamos por ela e
fomos diretamente à oficina do Jorge.
Eram quase 18h00, ainda que o sol brilhasse muito e o e frio congelasse nossas mãos e corpo.
Encontramos
o Jorge eufórico, dizendo que “a fé remove montanhas!”. Afinal, sua alegria se baseava em que havia
desmontado tudo que fizera e remontara seguindo as orientações do Miguel –
Jujuy, tendo encontrado um pequeno erro anterior que impedia a moto de
arrancar. Todo feliz, ligou a chave e a moto não arrancou por baixa carga na
bateria. Colocou seu carregador de bateria conectado e a moto pegou, roncando
redondinho, segundo meus ouvidos. Até eu
fiquei contente, pois o Marcos poderia seguir a viagem que tanto planejara.
Percebi, entretanto, que o Marcos não se ligou muito nisso e, quando indagado sobre colocar nova bateria, já que aquela já vinha lhe dando problemas na viagem, ele disse que poderia montar a moto com sua carenagem, que ele não gastaria mais dinheiro. Em suma, ali ele tomou a decisão que mais lhe convinha, a de enviar a moto para o Brasil e retornar de avião.
Percebi, entretanto, que o Marcos não se ligou muito nisso e, quando indagado sobre colocar nova bateria, já que aquela já vinha lhe dando problemas na viagem, ele disse que poderia montar a moto com sua carenagem, que ele não gastaria mais dinheiro. Em suma, ali ele tomou a decisão que mais lhe convinha, a de enviar a moto para o Brasil e retornar de avião.
Ele
mesmo montou a carenagem de sua moto enquanto o Jorge trocava o óleo da minha e
reapertava os parafusos da estrutura de proteção do motor, sobre a qual
descanso minhas pernas durante as esticadas.
Para
minha troca de óleo, a mão de obra foi P$ 100,00 = R$ 40,00 com o óleo Motul
5100 comprado à parte. Para a do Marcos, ele havia cobrado US$ 200,00 antes do
serviço e o Marcos o pagou com o equivalente em P$, câmbio oficial.
Observei
a frustração do Jorge Duarte ao saber que a moto não continuaria a viagem,
clareando que não havia confiança no trabalho que fizera. Fiquei um pouco
decepcionado, entretanto, foi uma decisão soberana do Marcos e não cabia a mim
qualquer comentário em contrário.
Preocupava-me que esta decisão poderia fazê-lo arrepender-se depois pela
não tentativa de prosseguir, abortando a viagem na metade do caminho.
Saí
um pouco à frente, indo para o Hotel. Precisava arrumar minhas coisas e me
preparar para partir. A decisão que esperava foi tomada, o Marcos teria os
contatos com a BMW Service, que o levaria e à moto para São Paulo, buscaria
outro hotel para ficar, já que aquele seria somente para a noite de 2ª para 3ª
feira.
Seguindo
minha dica, o Marcos quis andar um pouco com a moto para ajustar melhor as
válvulas, dando-lhe melhor aparência pela combustão. Levou-a para o hotel logo
depois de sair da oficina. Tomamos banho
e nos preparamos para jantar com sua moto nos levando à cidade. Quando saí do
hotel não encontrei o Marcos e o esperei.
Ele deveria ter dado uma voltinha para me buscar. Dali a pouco ele chega a pé, com o capacete
na mão, dizendo que a moto não havia pegado, mesmo descendo a rua do hotel.
Fomos
até ela, empurramos e empurramos, sem sucesso! Sabíamos que a bateria estava
detonada, daí não pegar mesmo. No tranco, o pneu derrapava, sem dar o
travamento necessário para pegar o motor.
Bem,
empurramos a moto até o hotel e a deixamos lá. Perdi o tesão de jantar fora e
combinamos de ir ao mercado buscar algo para comer., o que fizemos. Com a orientação da Sra. Milta, do hotel,
pudemos utilizar as instalações da cozinha para aquecer nossos lanches,
comendo-os com suco de limão em caixa.
Estávamos famintos, pois a última dentada que déramos foi na torta, que
ganhamos no Parque Nacional.
Estávamos
calados, sem querer conversar e assim foi a noite quase toda, cada um para seu
lado dentro do hotel, mesmo que arrumando as malas. Qualquer comentário seria impróprio naquele
momento.
Passava
da meia noite quando decidi dormir e o Marcos continuou arrumando suas coisas. Nem sei quando dormiu. Eu apaguei!
Por
hoje é só! Fiquem com Deus!
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